sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Série A Criatura 22/28


A CRIATURA



Depois de evos que se contam em milhões de anos terrestres, depois de não poucas encarnações junto às sociedades que denominamos de primitivas, nossa Mônada juntou recursos que lhe proporcionaram uma consistência mais sólida do corpo Astral.
As experiências vivenciadas despertaram-lhe a atenção, a criatividade e apuraram-lhe as sensações. Enfim, o fenômeno da inteligência humana começava a se fazer visível no ambiente terrestre. A hostilidade do mundo primitivo ia sendo dominada.
Com toda essa transformação, que de resto acontecia com a sociedade de modo geral, levava à mudança dos costumes. O relacionamento entre os indivíduos se tornava mais estável e tomava outras características. Não é mais aquele bruto.
A figura 22A mostra um indivíduo que podemos classifica-lo de o homem da era moderna.
Como vimos na apostila 21, também aqui fazemos uma representação em três etapas:
1 - Ativo e organizando-se na vida física;
2 - Com o corpo físico já devolvido à terra, devido a morte;
3 - No plano Astral.
Em tudo, muito diferente daquele indivíduo visto na apostila 21. Agora, seus interesses são outros. Além disso, alargou-se, desmesuradamente, seus horizontes imaginativos. Sua fonte de pensamento agora gera um fluxo contínuo e enriquecido pelo raciocínio analítico.
O que veio proporcionar isso foi o concomitante desenvolvimento do corpo Mental, ocasionado por reflexo direto ao desenvolvimento do corpo Astral. Referência que fizemos na apostila 21, quando comentamos trecho de autoria de Emmanuel contido no livro Roteiro. Assim, pois, o homem da era moderna está municiado com o mais poderoso instrumento transformador do mundo: o pensamento crítico e inventivo.
De posse desse manancial inesgotável, mesmo que sendo mal usado, desenvolve atividades sociais e técnicas das mais variadas formas. Tornou-se, por isso, um inquieto e insaciável, sempre em busca de novidades.
Podemos dizer que seu conjunto formado pelos corpos Físico, Astral e Mental, está permanentemente eletrizado por intenso fluxo mental, daí o aumento de atividades. Exatamente o oposto do que acontecia ao homem primitivo.
Esse fator de contínuo despertamento e interesses faz com que, mesmo estando no plano Astral, suas atividades não cessem. E´ o que vemos na figura 22A, etapa 3. Com o desencarne e a transferência definitiva ao plano Astral, lá ele continua dedicando-se às atrações que lhe são adequadas. E como sabemos que o mundo Astral é vasto em possibilidades, logo, não lhe faltará o quê fazer. Com isso, mais expansão adquire seu raciocínio e maior adestramento nas habilidades.
Nesta nova fase um outro acontecimento merece destaque. Trata-se do seguinte: Na fase anterior, a primitiva, como os interesses do indivíduo só estavam centrados no acanhado mundo da selva em que vivia, ao desencarnar, seu corpo Astral permanecia fixado à colônia de seu povo. Em razão disso, a atração por nova vida física o trazia de volta a esta, com pequeno intervalo entre uma encarnação e outra. Isto é, o tempo de permanência no plano Astral, entre uma encarnação e outra, era curtíssimo. Talvez, uns poucos meses.
Nesta nova modalidade de viver, com a dilatação dos interesses, e descobrindo que tanto na vida Física quanto na Astral há muito que aprender e fazer, os intervalos entre encarnações se tornaram mais prolongados.
Obviamente a duração desses intervalos não segue uma regra genérica. Ela é específica a cada indivíduo, tendo-se em conta os acontecimentos que envolvem as motivações de sua encarnação.
O fato, porém, de intervalos entre encarnações durarem algumas dezenas, ou centenas, de anos terrestres, não significa perda de tempo. Em todo esse período, por mais prolongado que seja, estará utilizando-o em atividades que proporcionarão o seguimento de sua evolução. Isso, naturalmente, considerando-se o Ser interessado nessa elevação, pois, como também é sabido, aqui e lá existem os desinteressados de tudo. Aqueles que não sentem atração por saber mais e produzir melhor, em termos espirituais.
Todavia, para aquele indivíduo que já se inteirou dos objetivos da vida, o intervalo entre vidas Físicas se torna de um aproveitamento mais completo. Como resultado disso, seu psiquismo se torna mais dinâmico, seus corpos Astral e Mental mais consistentes, belos e ágeis.
A esse estado de desenvolvimento, aqui na Terra, chamamos de homem intelectualizado. Aquele que sabe fazer uso de seu pensamento para criar e transformar todas as coisas. Os mistérios vão desaparecendo ante sua pertinácia na busca de definições. Mesmo que, no auge dessa busca não saiba fazer uso humanitário e fraterno de todas as suas descobertas.
Contudo, nenhum desses avanços deve ser desprezado, pois até do mecanismo dos encontros bélicos, das guerras, a sabedoria Universal sabe tirar proveito. Um deles, por exemplo, o ensejo de aproximação dos povos, miscigenando-os. Não que a guerra seja desejável. Longe disso, porém, como tem sido inevitável em conseqüência da incúria humana, uma vez que acontece, procura-se, dela, extrair algo de útil em caráter de universalidade. E disso tudo resulta a gradual cessação dos preconceitos separatistas, que é o objetivo final para se atingir o igualitarismo na Terra.
Essa é a razão de a Terra, nessa era de mundo moderno e apesar de tantos povos, estar se transformando numa aldeia global. Os povos estão mais próximos. Só faltam cair as barreiras das fronteiras políticas, pois as geográficas vão sendo, imperceptivelmente, anuladas pela movimentação das gentes e dos interesses comerciais. E, observa-se, para chegar a essa aproximação consensual total entre os povos falta muito pouco.
Esse processo transformativo, embora imperceptível, dado que ele é lento e a vida humana na Terra é, proporcionalmente, curta, pode ser melhor comentado usando-se a figura 22B.
Na etapa "A" vemos as forças aglutinantes, comandadas pelo sentimento de Egoísmo, em sua ação de consolidação do indivíduo. Isso foi visto na apostila 20. Entretanto, como lá dissemos, esse processo de consolidação do indivíduo não prossegue indefinidamente. Num dado momento de sua existência cósmica ele cessa. Pára. Mas surge outro impulso de sentido e direção contrários.
Está em ação o irresistível fluxo ascendente de vida, e sua potencialidade faz inverter a polaridade das forças que atuam sobre o indivíduo. Entra ele na etapa "B", representada na figura. As forças que agora interagem são de tendência expansiva. Partem do indivíduo direcionando-se ao, e buscando o semelhante.
O nome desta nova tendência é sentimento de Fraternidade. Por força deste vai esmaecendo a tendência de pensar só em si, e cresce a vontade de estar junto aos outros. Com eles conviver e, pacificamente, seguirem na senda da evolução.
Referindo-se a esse transformismo, Pietro Ubaldi, no livro A Grande Síntese, capítulo 89, fala do que ele chama de"Evolução do Egoísmo".
A citação de Pietro é basilar e merece ser reproduzida. Diz ele: "Assim como no direito, a força evolve para a justiça, também o egoísmo evolve para o altruísmo. (...) A evolução opera então a demolição progressiva do egoísmo. (...)" (Grifos do original) (página 357) (Livro editado pela Livraria Allan Kardec Editora).
Indo mais além, Ubaldi demonstra que a fraternidade é uma força não só oponente ao egoísmo, mas o resultado direto da transformação natural deste. Faz essa demonstração numa frase em tudo curiosa, ao mesmo tempo em que insofismável, dizendo:
"O Altruísmo nada mais é do que um egoísmo mais amplo" (página 359) - Calma, não se espantem, ele vai explicar o porquê disso.
Segundo ele, o altruísmo é um ato de "Reunir em torno de si, como seus semelhantes, um número cada vez maior de seres (...)" (página 359 de A Grande Síntese) - Realmente, numa análise mais profunda, tal qual se viu Ubaldi inserido, temos de admitir que está correta a forma como ele define a transformação do egoísmo em altruísmo.
A razão é simples, por ter transformado o egoísmo em altruísmo, o indivíduo quer sentir junto a si um número cada vez maior de semelhantes. Esse desejo vem do compreender que a separatividade entre os Seres, que na fase do egoísmo, ilusoriamente, ele sentia, não existe.
Compreende que como todos os demais, ele é, também, só uma partícula do grande e único corpo Cósmico, e que se houvesse a separatividade entre as partículas, que se elas pudessem se isolar umas das outras, como nós os humanos fazemos até nossos vizinhos de rua, então esse corpo se desintegraria, e desapareceria no... NADA.
Como o NADA não existe, então, mesmo contrariadamente a início, o indivíduo passa a sentir a Unidade formada por todos os Seres. Sente-a. Desaparece-lhe a ilusão da separatividade. Tomado de boa vontade, volta-se aos seus semelhantes. Volta-se à sua condição de partícula sadia do único corpo cooperando com a vitalidade do mesmo. Recuperou-se, não é mais a partícula cancerígena.
Sobre essa ilusória idéia da separatividade até a ciência já deu as mãos aos ensinamentos das vetustas religiões orientais, que a tal circunstância dão o nome de Maya.
Numa espetacular descoberta científica o físico francês Alain Aspect, e sua equipe, recentemente, mais precisamente no ano de 1982, constataram que as partículas, como os elétrons, estão capacitadas de se comunicarem umas com as outras, de forma instantânea, mesmo que se encontrem separadas por bilhões de quilômetros. Diz o grande físico: "De alguma maneira uma partícula sempre sabe o que a outra está fazendo".
Ora, uma descoberta dessa nada mais é do que a derrubada do que se imaginava existir, que seria a separatividade entre seres. Não existindo a separatividade entre as partículas, mesmo que grandes distâncias as separem, não pode existir a separatividade entre os indivíduos, pois que seus corpos são constituídos por partículas.
Tem mais; cada partícula sabendo o que as outras estão vivenciando, e, por que não dizer, influenciando-se, significa que cada Ser "sente", subliminarmente, o que os outros vivenciam, e mutuamente se influenciam.
Por isso os místicos já nos ensinaram que enquanto houver, mesmo que seja uma só pessoa na Terra que esteja a sofrer, todas as demais não se sentirão felizes. E toda a Natureza sofrerá. E reagirá a essa dor. - Pensem, então, porque na atualidade, 2005, vemos a sociedade humana tão conturbada, e a Natureza revidando em esforços por ensinar a esta mesma sociedade os meios de correção.
Como podem ver, há muito mistério e muitos desvios, até em nossos sentimentos. O que nos parece tão banal, ou natural, porque são expressões que nascem em nosso íntimo, quando, porém, se exteriorizam, podem fazê-lo de forma mascarada. Difícil dizer, portanto, onde está a autenticidade relacionada ao altruísmo.
Mas isso é questão de fôro íntimo de cada pessoa. E´ ela que gera o sentimento, será ela que dará conta aos registros cármicos. Não nos cabe, portanto, qualquer julgamento, e nem pretendemos uma tal atitude.
Quanto à exposição de nosso tema, egoísmo e fraternidade, muito mais poderia ser citado dessa magnífica obra, A Grande Síntese, contudo, não nos alongaremos tanto. Até porque, ao leitor consciente de sua busca será proveitoso consultar o próprio livro, tirando, por si, as próprias conclusões.
Consideramos que o que foi citado dá para compreender que tudo ao entorno da criatura é o efeito da Lei do Progresso que em seu bojo a vai levando ao encontro de outra sistemática de vida. Sua adaptação a novo passo na existência.
Entretanto, é preciso deixar claro que nossa análise se restringiu, unicamente, ao fenômeno transformativo do Ser, dando ênfase à definição de formas e uso dos corpos que a Mônada utiliza nestes três planos inferiores. Não fizemos nenhuma abordagem mais profunda quanto ao modo de vida de nossa sociedade, conseqüência direta dessa transformação, pois isso será mais bem comentado nas próximas apostilas.
No momento nos competia apenas demonstrar essa modificação que sempre é no sentido positivo, mesmo que, durante seu transcurso ocorram fatos que aos olhos humanos sejam classificados de desagradáveis e repugnantes.

Bibliografia
Autor Título Editora

Allan Kardec - O Livro dos Espíritos - questões 166 a 196 - 536 a 540 - 614 a 957 - Livraria Allan Kardec Editora
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André Luiz/Francisco C. Xavier - No Mundo Maior - cap. 03 páginas 45 e 46 / cap. 04 páginas 55 - 58 - 59 - Federação Espírita Brasileira
André Luiz/Francisco C. Xavier - Nos Domínios da Mediunidade - págs. 32 - 169 - 172 - 173 - Federação Espírita Brasileira
André Luiz/Francisco C. Xavier - Evolução em Dois mundos - capítulos 01, 03, 04, 05, 12, 16 e 19 - Federação Espírita Brasileira
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André Luiz/Francisco C. Xavier - Mecanismos da Mediunidade - capítulos 04 - 10 - 11 - Federação Espírita Brasileira
André Luiz/Francisco C. Xavier - Entre a Terra e o Céu - págs. 54 - 84 - 126 - cap. 21 - Federação Espírita Brasileira
André Luiz/Francisco C. Xavier - Ação e Reação - págs 87 as 97 e capítulo 19 - Federação Espírita Brasileira
André Luiz/Francisco C. Xavier - E A vida Continua - páginas 69 e 70 - Federação Espírita Brasileira
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Annie Besant - O Poder do Pensamento - Editora Pensamento
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Áureo/Hernani T. Santana - Universo e Vida - Federação Espírita Brasileira
Charles W. Leadbeater - O Plano Astral - Editora Pensamento
Charles W. Leadbeater - Compêndio de Teosofia - páginas 13 e 19 - Editora Pensamento
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Edgar Armond - Os Exilados da Capela - página 27 - Editora Aliança
Elza Baker - Cartas de um Morto Vivo - páginas 37, 85, 86, 93 - Livraria Allan Kardec Editora
Emmanuel/Francisco C. Xavier - A Caminho da Luz - páginas 28, 31 e 32 - Federação Espírita Brasileira
Emmanuel/Francisco C. Xavier - Roteiro - capítulos 4 e 6 - Federação Espírita Brasileira
E. Norman Pearson - O Espaço, o Tempo e o Eu - páginas 71 e 72 - Edição Particular
Gabriel Delanne - A Reencarnação - Federação Espírita Brasileira
Helena Petrovna Blavatsky - A Doutrina Secreta - Volume I págs: 105-118-145-146-177-257-258-260-266-268-306-308 - Editora Pensamento
Helena Petrovna Blavatsky - A Doutrina Secreta - volume II - páginas 56 e 198 - Editora Pensamento
Helena Petrovna Blavatsky - A Doutrina Secreta - Volume V - páginas 69 e 90 - Editora Pensamento
Hernani Guimarães Andrade - Morte, Renascimento, Evolução - Editora Pensamento
Hernani Guimarães Andrade - Espírito, Perispírito e Alma - Editora Pensamento
Hernani Guimarães Andrade - Psí Quântico - Editora Pensamento
Itzhak Bentov - Á Espreita do Pêndulo Cósmico - Editora Cultrix/Pensamento
J. B. Roustaing - Os Quatro Evangelhos - Federação Espírita Brasileira
Lancellin/João Nunes Maia - Iniciação - Viagem Astral - Editora Espírita Cristã Fonte Viva
Leon Denis - O Problema do Ser do Destino e da Dor - capítulos 01 - 03 - 04 - 13 - 17 0 18 - 20 ao 24 - Federação Espírita Brasileira
Miramez/João Nunes Maia - Horizontes da Mente - páginas 181 e 185 - Editora Espírita Cristã Fonte Viva
Pietro Ubaldi - A Grande Síntese - Livraria Allan Kardec Editora
Ramatis/Hercílio Maes - Mensagens do Astral - Livraria Freitas Bastos
Zulma Reyo - Alquimia Interior - páginas 254, 255, 312 e 313 - Editora Ground

Apostila escrita por
LUIZ ANTONIO BRASIL
Julho de 1996
Revisão Agosto de 2005